quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Brindemos um copo de nada


Brindemos um copo de nada!


Ainda que eu pudesse ver
De tão complexo, faltaria entender
Desafio caboclos espertos a enxergar
Qualquer das cores que o violeta passar



Ainda que eu pudesse ouvir
A nota não ia existir
Talvez como se fosse possível
O cantar do canário, soar ao tom de um fusível



Ainda que eu pudesse cheirar
O odor não ia se configurar
Pois só desde a bosta da vaca até o cheiro das flores
Fui programado a funcionar



Ainda que eu pudesse provar
O salgado e o doce iam se misturar
Afinal, o que é azedo?
O limão na língua ou o amargo no peito?



Ainda que eu pudesse tocar
Faltaria uma forma na qual se mostrar
E se só a falta de sentido faz algum sentido
Brindemos à vida um copo de água!
E que ele esteja como a água:
Cheiinho de nada, mas vital!


Comentário:

Ando muito apegado a falta de sentido da vida ultimamente. Sim, o adorável clímax caótico! e pensando sobre a água que não tem cheiro,cor,gosto,som,forma e é oque nos faz viver, percebi que realmente o principio da vida não faz sentido algum. A água é um nada como tudo ao meu redor, pensamentos, idéias e nda passa disso. Portanto, em comemoração!

brindemos um copo de agua e vivamos a vida!


The clown

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Escrever pra quê?







Escrever pra quê?


Nesse ano conheci uma pessoa de uma maneira muito inusitada, e em função do meu tesão por momentos fora do script e por pessoas que arquitetam essas momentos acabamos nos tornando amigos.
A Alice, que se mostrou interessantíssima, fez um jogo comigo no qual ela se apresentou com o codinome L e o objetivo do jogo era eu descobrir quem ela era dentre as pessoas do colégio, sendo que eu não fazia idéia de quem fosse a lunática.
Tudo começou com mensagens via correio eletrônico e troca de mensagens instantâneas na rede internacional de computadores. Acabou que nos descobrimos e ela continua criando situações bem legais como, por exemplo, a matada de aula na praça da liberdade onde, sentados na grama junto a um hippie que vendia flautas e pulseiras, conversamos muito, fizemos charadas, pude falar um pouco sobre política com o rapaz que me perguntou o porquê da minha camisa escrita 1984 e ainda aprendi um pouco sobre a banda 14 bis que o hippie citou.
A terceira situação construída por ela foi a que me levou a escrever esse texto. Ela simplesmente perguntou:
“O que te leva a escrever?”
Essa pergunta me roubou algumas noites de sono, fato que não me incomodou, mesmo porque, não vejo nada melhor que ser atropelado por uma pergunta inicialmente sem resposta. Então matutando, mastigando e digerindo essa questão me deu vontade de gritar a plenos pulmões para todo o planeta terra:
“Algum de vocês entende alguma coisa que está acontecendo? Alguma coisa faz sentido a não ser a falta dele? Alguma coisa existe a não serem as consciências individuais? O que é o passado e o futuro senão pensamentos?”
Com certeza eu não obteria nenhuma resposta satisfatória já que as respostas seriam mera expressão de pensamentos individuais. Talvez seja por essa lacuna que me surge vontade de escrever, pois eu preciso dessas respostas, então tenho que criá-las para mim.
Já que mesmo sem uma autoridade que explique o caos da vida eu sou obrigado a viver um cotidiano arquitetado por meros mortais que, como eu, não sabem de nada, é através da arte que busco minha paz e a expressão desse meu mundo de palhaços, aventuras, ideologias, fantasias e sonhos. Mundo esse que só vira uma realidade palpável quando traduzido em músicas, textos e poesias, pois enquanto não são traduzidos não passam de idéias desconexas na minha cabeça, as quais, para mim, têm muito mais valor que a realidade ilusória de ter que estudar, me formar, trabalhar, constituir família e etc.
Essa realidade ilusória não passa de uma forma de adaptação do ser humano ao mundo atual.
Escrevo por isso. Para que minha vida, aquela que é só minha, é a verdadeira e não a que eu construo para os outros possa ser cada vez mais vivida. Escrevo para viver! E mais, para viver em conformidade com minha consciência, traduzindo-a em algo real para fugir da minha coisificação e da minha robotização, para ser mais eu, por não ter outra saída e pelas minhas respostas que me dão mais paz que qualquer livro espiritual ou guia de auto-ajuda pode oferecer.
Acho que respondi de maneira satisfatória o por quê do meu habito de dedicar horas a fio na batalha com as palavras. E como todo petróleo do mundo não vale metade da minha consciência continuarei escrevendo sempre que me der na telha. Viva o caos que as gravatas tentam disfarçar!






texto: clown
fotografia: mokah

sábado, 6 de outubro de 2007

O taxímetro


O Taxímetro

Estou sentado por aqui, em campos onde passei tempos tão antigos quanto cheiro de cozinha de vó, tempos de muita infância, curiosidade e velocidade. Sim, como era bom correr. Rua Turquesa é meu atual paradeiro, esquina da Rua Contria no bairro Prado onde está a casa na qual morei naqueles tempos, chamada por meus irmãos menores de “A casa vermelha”, por sinal, uma cor pela qual sou muito simpático quando ela pinta estrelas em boinas pretas.
E foi andando por essas bandas que começou uma tempestade cerebral de idéias, talvez pela expectativa do ensaio com a minha banda no dia seguinte banhada por uma “atitude Kurt Cobain” e um ar “Ernesto Che Guevara”, que se misturava com o fato da atendente do supermercado ter se dirigido a mim, da seguinte forma:

“Há que endurecer-se mas sem jamais perder a ternura, lhe parece familiar?

A boina que eu vestia e a barba sem fazer por duas semanas levaram a moça a essas palavras, as quais me deixaram muito feliz e fizeram com que naquela chuva de idéias, o trem do pensamento passeasse por trilhos teatrais e viajando por lá me veio a seguinte cena na cabeça:
Me imaginei andando numa avenida movimentada quando, de repente, um senhor começa a passar mal na calçada ao meu lado, então, corro para ajudá-lo e devido a seu estado grave dou sinal para um táxi que passava por ali.
Com muita pressa ordeno o taxista ao hospital mais próximo e ele com um sorriso amistoso responde:
-Deus vai nos ajudar
Agradeço pelas palavras de esperança, mas peço pressa ao generoso taxista, o qual disparou a seguinte frase uns duzentos metros à frente:
-Droga! Sempre me esqueço.
Logo, guia seu dedo até um pequeno botão e liga uma maquineta. O Taxímetro.
E pensando naquela inicial boa vontade do rapaz que se desmoronou como o muro de Berlim formulei a seguinte frase:
“Se tempo é dinheiro, salvemos nossas vidas”

The Clown